Thursday, November 29, 2007

Fúria, de Salmon Rushdie e The Last Testament, de Sam Bourne

O penúltimo livro que li foi Fúria, de Salmon Rushdie, na versão em Português, traduzida por Alexandra Lopes e publicada pelas Publicações Dom Quixote.

O que tenho a dizer pelo livro é pouco, pouquinho. Creio que este livro teve azar e me apanhou numa fase da vida em que não estava muito para aí virada, pelo que, se o meu protoneurónio apreendeu metade daquilo que havia para apreender, já foi muito. Demorei séculos a lê-lo, o que nunca ajuda. Havia noites em que devo ter lido três linhas ou talvez apenas três palavras. É bastante introspectivo, com uma acção que é apenas um acessório para nos dizer aquilo que se passa na mente talvez meia louca de Malik Solanka. Cheguei ao fim, mas penso que, se tivesse sido honesta, o teria abandonado a meio, reconhecendo que não seria possível lê-lo agora. Tenho ali mais um ou dois livros de Rushdie e dar-lhe-ei uma segunda oportunidade, quando o protoneurónio estiver com mais disponibilidade para o mundo.

Face a este desastre, decidi que só poderia ler livros de consumo rápido, sem sentidos obscuros por detrás do texto ou que me fizessem questionar muito sobre o sentido da vida.

Calma, calma, desesperada, mas não tanto... Não foi desta que fui comprar o novo êxito de Margarida Rebelo Pinto. Nada disso. Antes, The Last Testament, de Sam Bourne. Como eu esperava, não desiludiu. Lido em três tempos, verdadeiramente relaxante, é uma daquelas histórias de conspiração internacional e mistério que estão tão na moda nos dias que correm. Não é uma grande obra da literatura, mas cumpriu a sua função.

Agora, passei para mais um mistério do Inspector Montalbano, de Andrea Camilleri, traduzido em inglês, The Snack Thief.

Durante uns tempos, creio que as minhas escolhas de leituras, à excepção de interessantes papers, continuarão nesta linha light.

Tuesday, November 27, 2007

O futuro? ou Cruz, credo, abrenúncio!

É certo que a ciência se tornou sexy e popular nos dias que correm. Divertida, acessível, para todos.
No entanto, quando passo pelas páginas do staff de algumas universidades espalhadas mundo fora, ao olhar para as fotos dos cientistas, não posso deixar de me perguntar se é para isto que eu algum dia irei caminhar.

PS: Este post é da total responsabilidade da cabra cínica que vive dentro de mim. Escusado será dizer que o geek interior se passou completamente com isto e teve que ser amarrado e amordaçado durante a escrita da mensagem.

Tuesday, November 20, 2007

OOOooops!

Engulo oficialmente as minhas palavras sobre a recente falta de chuva e frio.

Friday, November 16, 2007

Natal ou não Natal, eis a questão!

O Natal está aí à porta. Ou melhor, em boa verdade, a crer pelas susperfícies comerciais, já deve ter chegado há umas boas duas ou três semanas.

Mas não há frio, nem chuva, nem neve (neve era óptimo, mas eu já nem pedia tanto), nem espírito. Essa coisa a que se chama espírito natalício ainda não se apoderou de mim este ano. Não sei quando chegará (se é que vai chegar de todo...), mas espero que seja para breve. Aqui se vê que eu sou a perfeita moaner, nunca satisfeita com nada, se chove, é porque chove, se está sol, é porque está sol.

Se o tal espírito não me tomar entretanto, peço desculpa, mas não sei se haverá prendas para alguém este ano. De qualquer modo, vocês sabem o quanto eu gosto de vós, por isso, essa coisa de demonstrações materiais de carinho ou de sei lá o quê é um pequeno pormenor. Certo?
Espero, no entanto, que não seja tomada por um espírito tardio. Não gosto de compras de última hora, nem de correrias, nem de ruas e lojas cheias de gente. Esta é uma escolha que requer calma e ponderação. Aliás, nos dias que correm, talvez seja o melhor e o mais valioso que tenhamos para oferecer, o tempo, que a calma e a ponderação requerem.

Talvez tenha esgotado o espírito. Talvez o espírito seja como os óvulos. Já nascemos com eles todos e vamo-los "perdendo" ao longo da vida. Talvez seja isso com o espírito. Usei demasiado espírito no passado e agora, népia... Acabou-se. Durante anos a fio, fui responsável por organizar as compras lá em casa, além de comprar as prendas que eu queria oferecer, comprava ainda outras para terceiros oferecerem a terceiros. Enfim, um Pai Natal, em versão de cachopa, mas sem fábrica de duendes. Era uma tarefa complicada, ter ideias originais para o que a família gostaria de receber, às vezes em triplicado. Mas acho que eu sempre gostei. Era a minha tarefa. Fútil, dirão vocês. Talvez, mas era a minha.

É certo que o Natal não é o que era. A mesa de Natal foi-se esvaziando, de cadeiras e de doces. Essa a tarefa da minha avó, que ela desempenhava como ninguém. Azevias, sonhos, filhós (ou "ozes", ou lá como se diz), pudim cor de rosa, brisas, rissóis de camarão, carne branca... Alternadamente, os petiscos preferidos de cada um nós, feitos com o empenho, a dedicação e o amor das avós que cozinham "melhor có que todos" no mundo. Ela não gostava do Natal, dizia que lhe fazia lembrar as pessoas que já não estavam na mesa e que isso a entristecia, mas fazia-nos a festa em miúdos e foi sempre fazendo enquanto pôde. Agora que já não está na mesa, o Natal é mais triste, é mais frio, é menos confortável e é menos doce. É menos Natal.

Faz-me muita falta.

Thursday, November 15, 2007

O vizinho

O meu novo vizinho de cima chora que se farta. Já há vários dias. Não deve andar satisfeito com a vida. Ou isso, ou tem cólicas.

Monday, November 12, 2007

Photoblogging

Nikon FM2, Dezembro 2003, Angra do Heroísmo


Nikon D70, Abril 2006, Bristol

Thursday, November 08, 2007

Ainda mais docs...

Para encerrar a onda de documentário que inundou este blog, aqui ficam dois apontamentos:
1. Nenhum dos filmes que nós vimos ganhou a competição internacional do DocLisboa (não vimos nenhum dos docs nacionais) ou qualquer outro prémio, o que me gera bastante curiosidade para ver os premiados O que ganhou foi "These Girls", de Tahani Rached, que fala sobre a vida de adolescentes que vivem nas ruas do Cairo. Se virem, avisem se é fixe. Aqui têm uma notícia que vos diz todos os premiados, caso estejam interessados.
2. Está nas salas de cinema Sicko, o último "documentário" de Michael Moore. No seu estilo habitual, MM desfaz o sistema de saúde norte-americano. Na minha opinião, desponta algum orgulho sobre sermos Europeus, fixes, com sistemas de saúde estatais, que dão atenção a todos. É certo que sabemos todos que os nossos sistemas têm falhas e grandes buracos orçamentais, mas esse pedaço não aparece. Nem faz falta na argumentação de MM. De qualquer modo, devo confessar que concordo com os princípios ideológicos em que assentam os nossos sistemas de saúde e que a privatização da saúde me assusta bastante. No entanto, também é claro que temos bastante espaço para crescer no sentido de prestar um melhor serviço. Por último, sobre MM, acabámos por ir ver, inesperadamente, um documentário em que ele passa para o outro lado das câmaras e... não se sai particularmente bem. Para mais informação, "googlem" Manufacturing Dissent.

Wednesday, November 07, 2007

Photoblogging

Nikon D70, Dezembro 2006, Leiria


Nikon D70, Fevereiro 2006, Birmingham

Tuesday, November 06, 2007

Construindo e destruindo

Há silêncios que erguem muros.
Que erguem silêncios.
Que erguem muros.
Que erguem silêncios.
Que erguem muros.

...

Por vezes, abrem-se portas, janelas ou apenas pequenas frinchas nesses grandes, enormes muros, quase muralhas. No mesmo instante, desfazem-se os silêncios.

Monday, November 05, 2007

Online shopping

Depois de mais de um ano a carregar sacos do supermercado, rendi-me às compras online. A pergunta é óbvia: "What took you so long???" Não sei... Nada posso dizer em minha defesa, se não que sou uma idiota chapada. Enfim, aquilo ao início, estranha-se, mas depois entranha-se e a ideia de ter de voltar a frequentar supermercados foi tormentosa.

No entanto, de volta à santa terrinha, voltei ao belo do supermercado, hipermercado ou mercearia aqui da esquina, conforme o volume de compras e da pressa.

Foi só há pouco tempo que resolvi experimentar a maravilha das compras online em terras lusas. O site está muito jeitoso, navega-se bem, as fotos estão catitas, mas está tão lento, tão lento, tão lento, que creio que me demorou tanto a fazer as compras online como demoraria no supermercado. Acho que só terminei as compras por uma questão de teimosia, mas levantei-me algumas vezes durante o processo para respirar um bocadinho. (Resta-me pensar que já tenho lista feita para a próxima, pelo que estou à espera que seja mais rápido...)

Depois deste pequeno grande contratempo no início, o serviço foi impecável: telefonaram a perguntar o que queríamos como substituições de alguns produtos e, na loja (escolhemos a opção de entregar lá), foram super simpáticos connosco, mesmo quando nos queixámos da lentidão do sistema. É só tratarem de arranjar algo mais rapidinho e têm cliente.

Sunday, November 04, 2007

6 months later

Passaram ontem 6 meses sobre o desaparecimento de Madeleine McCann do Ocean Club, na Praia da Luz. Nas televisões nacionais, a data foi assinalada com reportagens, umas mais jornalísticas, outras mais na onda da pura especulação. Em Rothley e na Praia da Luz, rezou-se pela menina.

Não sei bem se conta como rezar, mas eu também desejo que ela pudesse aparecer, sã e salva. Amanhã, se for possível. Não quero, nem consigo acreditar que se finja o rapto de um filho e não me parece que seja possível ou sequer inteligente montar tamanho circo mediático, caso houvesse culpa pelo meio. Ou, pelo menos, mais culpa do que aquela que eles sentem por não terem estado lá naquela noite.

Pode ser que venha a ter que engolir estas palavras todas, mas espero sinceramente que não.

Saturday, November 03, 2007

Divulgação

Já que isto anda numa onda de cinema, aqui ficam a obra cinematográfica da família. Para que vejam que afinal sempre há alguém com talento lá em casa (o que é justo, ele tem talento e eu sou alta, loura e boa!).

Hotel - A História




(Semi) Recta




Tílias

Thursday, November 01, 2007

Hot House

Na passada sexta-feira, de novo no grande auditório da Culturgest, foi a vez de Hot House, o nosso último filme programado para o DocLisboa.

Hot House, realizado por Shimon Dotan, é tal como The Devil Came on Horseback, um documentário político. Fala-nos de outro dos conflitos que nos assolam, este em aberto há anos entre Israelitas e Palestinianos, mas longe ainda de um resolução fácil à vista.

No entanto, embora seja político como o filme anterior, afasta-se dele por ser um filme cinzento. Ver cadáveres amontoados, corpos carbonizados e mutilados gera revolta, ira, impotência, necessidade de actuar, de dizer basta, que isto não pode mesmo, de maneira nenhuma, ser assim. Gera até vontade de não deixar em muito bom estado as pessoas responsáveis por estes crimes. Mas não gera grandes dúvidas.

Neste caso, foca-se um ponto muito específico da relação entre Israelitas e Palestinianos, no qual nos é dada uma visão longe de facilitismos do preto e branco, certo e errado, bons e maus. Convida-nos, sem dúvida, à reflexão não só sobre o conflito, mas sobre a relação com os outros, sobre diferenças e igualdades, sobre o ódio e a tolerância.

Este documentário mostra entrevistas de presos palestinianos em Israel. Não o típico preso, calculo eu, mas algumas das "grandes figuras" da Fatah e do Hamas. As prisões escolhidas também não devem ser as típicas prisões, pois, dentro daquilo que uma prisão pode ter "bom aspecto", estas tinham-no.

Dentro destas prisões (uma de homens e uma de mulheres, cujos nomes, não me lembro), há hierarquias e grupos bem definidos: celas para homens da Fatah e do Hamas, que acompanham os movimentos das suas facções no mundo exterior e tentam intervir sempre e como podem. A comunicação com o exterior é um dos grandes problemas de segurança para os responsáveis pela prisão, não pela intervenção na vida política dos partidos, mas pelo planeamento e coordenação de atentados.

A participação e planeamento de atentados terroristas é aliás a causa pela qual muitos dos entrevistados estão na cadeia, grande parte com penas elevadas (demasiado elevadas, em alguns casos, pareceu-me a mim). Ao longo do filme, vão falando dos motivos que os levaram à prisão, das forças de ocupação, do seu envolvimento na Fatah e no Hamas, da sua vida diária na prisão e da Jihad. Mas, com muito poucas excepções, todos eles têm um discurso racional, distante de radicalismos inflamados. Claro que é um discurso contra as forças de ocupação, que lhes negam continuamente o direito à terra e ao país, que fazem com que inúmeros Palestinianos tenham vivido toda a vida num campo de refugiados, mas os seus argumentos são maioritariamente de políticos, não de extremistas religiosos. Falam da Jihad com algo que lhes pareceu a única alternativa para lutar uma guerra desequilibrada e a maioria lamenta as baixas civis, que reconhecem acontecer dos dois lados. É uma "alternativa" muito, mas muito discutível, eu sei.

Contra os estereótipos, estas pessoas, presas como terroristas, muitas envolvidas em ataques suicidas, não têm um aspecto de loucos perigosos, não parecem bandidos sanguinários. Têm, isso sim, um discurso político, informado, reivindicativo dos seus direitos, que nos faz inevitavelmente perguntar porque raio é que eles estão na prisão. Grande parte dos detidos usa a sua pena para estudar, para ler; muitos têm graus da Universidade Hebraica (o estudo em árabe é proibido), elegendo quase sempre Política Internacional ou algo semelhante. Acho até que nos identificamos com eles ao longo do filme. O que faríamos nós se fosse o nosso país?

Mais para o final, as declarações mais chocantes: um rapaz diz que se tivesse filhos, que os armava e os mandava para a guerra; uma mulher sorri enquanto lhe é dito que oito crianças israelitas morreram num atentado que planeou e a mesma mulher tenta defender que ao enviar um bombista suicida para um atentado lhe estava a conceder o seu maior desejo e que era, por isso, como dar dinheiro a um pobre.

E ficamos cheios de dúvidas. Não é justo que os Palestianos não tenham direito à sua terra, do mesmo modo que não é justo que se expludam autocarros e restaurantes para a recuperar. Israel impõe-se frequentemente usando uma força completamente desproporcionada para "impôr respeito" entre os seus vizinhos, mas será que se isso lhes dá carta branca para matar?

A minha cabeça é pequenina e há coisas que eu não consigo entender. Sei que elas existem, percebo como se originam e porque é que têm sucesso, mas não as compreendo. Uma delas é este sentimento estranho que leva à ideia de que a vida de alguns vale menos do que a de outros (será que é ódio?) e como tal, o facto de se atentar contra a sua vida não é grave, porque a vida deles quase nem conta, ou porque foram eles que começaram, ou porque eles são nitidamente maus, ou porque eles são todos terroristas, ou porque é preciso mostrar uma posição de força ao governo deles. Não sei bem, mas talvez a base do problema esteja nesta grande distinção entre nós e eles.