O Natal está aí à porta. Ou melhor, em boa verdade, a crer pelas susperfícies comerciais, já deve ter chegado há umas boas duas ou três semanas.
Mas não há frio, nem chuva, nem neve (neve era óptimo, mas eu já nem pedia tanto), nem espírito. Essa coisa a que se chama espírito natalício ainda não se apoderou de mim este ano. Não sei quando chegará (se é que vai chegar de todo...), mas espero que seja para breve. Aqui se vê que eu sou a perfeita moaner, nunca satisfeita com nada, se chove, é porque chove, se está sol, é porque está sol.
Se o tal espírito não me tomar entretanto, peço desculpa, mas não sei se haverá prendas para alguém este ano. De qualquer modo, vocês sabem o quanto eu gosto de vós, por isso, essa coisa de demonstrações materiais de carinho ou de sei lá o quê é um pequeno pormenor. Certo?
Espero, no entanto, que não seja tomada por um espírito tardio. Não gosto de compras de última hora, nem de correrias, nem de ruas e lojas cheias de gente. Esta é uma escolha que requer calma e ponderação. Aliás, nos dias que correm, talvez seja o melhor e o mais valioso que tenhamos para oferecer, o tempo, que a calma e a ponderação requerem.
Talvez tenha esgotado o espírito. Talvez o espírito seja como os óvulos. Já nascemos com eles todos e vamo-los "perdendo" ao longo da vida. Talvez seja isso com o espírito. Usei demasiado espírito no passado e agora, népia... Acabou-se. Durante anos a fio, fui responsável por organizar as compras lá em casa, além de comprar as prendas que eu queria oferecer, comprava ainda outras para terceiros oferecerem a terceiros. Enfim, um Pai Natal, em versão de cachopa, mas sem fábrica de duendes. Era uma tarefa complicada, ter ideias originais para o que a família gostaria de receber, às vezes em triplicado. Mas acho que eu sempre gostei. Era a minha tarefa. Fútil, dirão vocês. Talvez, mas era a minha.
É certo que o Natal não é o que era. A mesa de Natal foi-se esvaziando, de cadeiras e de doces. Essa a tarefa da minha avó, que ela desempenhava como ninguém. Azevias, sonhos, filhós (ou "ozes", ou lá como se diz), pudim cor de rosa, brisas, rissóis de camarão, carne branca... Alternadamente, os petiscos preferidos de cada um nós, feitos com o empenho, a dedicação e o amor das avós que cozinham "melhor có que todos" no mundo. Ela não gostava do Natal, dizia que lhe fazia lembrar as pessoas que já não estavam na mesa e que isso a entristecia, mas fazia-nos a festa em miúdos e foi sempre fazendo enquanto pôde. Agora que já não está na mesa, o Natal é mais triste, é mais frio, é menos confortável e é menos doce. É menos Natal.
Faz-me muita falta.
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