Saturday, May 26, 2007

A não existência

Rosslyn Chapel, Outubro 2006, Nikon F50

Apesar de ser das noções mais básicas da vida, acho que ainda não consigo assimilar bem a não existência. Essa ideia, de simplesmente não existires, é esmagadora. Sobretudo porque tudo o resto está lá. Diferente, mas lá. E esta coisa de haver um mundo completamente independente de nós, que existe e muda, quer nós estejamos lá ou não, é também ela uma ideia complicada de entrar na cabeça. (Pouco egocêntrico, não?)

Por isso, às vezes, penso nas pessoas que não vejo há anos (nesta altura, até são bastantes, com o desterro e tudo mais) e imagino-te lá, com elas, na sua vida. Só que o teu telemóvel não tem rede e, por isso, não podes ligar a perguntar como está o tempo aqui. Talvez seja por isso que noções como céu, inferno, reencarnação e outras afins são tão populares. Malta com dificuldade de compreensão, como eu?

Sabíamos todos que era iminente, mas eu tinha "decidido" que ainda havia tempo. Tínhamos coisas combinadas para quarta-feira, era "óbvio" que não seria já. Além disso, tínhamos falado no dia anterior e eu chegava no seguinte. Eu chegava no dia seguinte. O que é que muda num dia? Naquele dia, tinha ido ao cinema, a uma sessão de fim da tarde, mas suficientemente cedo para ouvir quando ligasses. Quando ia à sessão da noite, ligava antes de entrar, mas esta era cedo de mais. Lembro-me de verificar as chamadas perdidas e as efectuadas e sei que nenhum de nós ligou, mas, às vezes, a memória fica enevoada e re-escrevo a história com uma chamada pelo meio:
"Olá."
"Olá."
"Tudo bem?"
"Sim. E aí?"
"Vai-se andando. Está muito calor. O tempo aí está bom?"
"Está."
"Até amanhã."
"Adeus."

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