Wednesday, October 31, 2007
Sunday, October 28, 2007
The Devil Came on Horseback
Fomos, na quarta-feira, ver The Devil Came on Horseback, ao cinema Londres. (Embora não esteja directamente relacionado com o filme, devo dizer que o grande auditório da Culturgest, é bem mais confortável.) Este documentário, realizado por Annie Sundberg e Ricki Stern, mostra o testemunho de um ex-capitão do US Marines, Brian Steidle, durante os seis meses que esteve no Darfur, como observador não armado.
No início, é-nos dado um curto background sobre Brian: cresceu numa típica família dos EUA, com uma longa tradição militar. Por isso, alistar-se no exército foi uma escolha fácil e natural para ele. Quando acabou o seu contracto com o exército americano, aceitou um emprego como observador no Darfur. O seu trabalho, com base no sul do país era monitorizar o cessar fogo com o norte. Os dias lá passavam sem agitação de maior, mas chegavam constantemente rumores de confrontos e problemas na região mais a oeste, o Darfur.
Brian decide então concorrer para uns lugares que a União Africana abriu para ocidentais integrarem os seus grupos de observadores no Darfur. Mais uma vez, o seu trabalho era monitorizar o cessar fogo, mas agora entre os rebeldes do Darfur e o governo. Aqui podem ter acesso ao site da associação porDarfur e ler mais sobre as razões históricas que levaram a este conflito, mas, basicamente, o governo e os Janjaweed (milícias árabes armadas e treinadas também pelo Governo) estão a tentar exterminar a população negra do Darfur, em resposta à acção de grupos rebeldes que lutavam por mais direitos e autonomia para os negros, que são historicamente eram escravizados pelos árabes. Ambos os grupos praticam maioritariamente o islamismo e ambos falam árabe. Não é uma questão religiosa, mas étnica.
Estando numa missão de monitorização, o seu papel era apenas (e mais uma vez) de observador: tinha que registar qualquer quebra do cessar-fogo, não podendo intervir em qualquer situação. Mesmo que pudesse, certamente que desarmado não iria muito longe. A sua arma mais poderosa durante este tempo foi provavelmente a lente da objectiva, o que se tornou algo frustrante. Seis meses e muitos relatórios depois, Brian sente-se impotente perante as atrocidades que testemunhou e decide abandonar o Sudão.
Quando volta para a América, leva consigo todas as provas do genocídio a que consegue deitar as mãos. Algum tempo mais tarde, as suas fotos são publicadas (no Washington Post, se não estou em erro) e a partir daí começa, com efeito bola de neve, uma campanha sobre o que viu. Foi a talkshows, fez comícios e palestras e chegou mesmo a ser recebido por Condoleeza Rice. Mas se sentiu impotência e frustração no Darfur, não os sente menos de volta a casa. Embora seja visível que a sua mensagem vai passando e que há pessoas a manifestar-se ao lado dele na rua, sente também que, no terreno, nada tinha mudado.
No Darfur, Brian tinha pensado muitas vezes que o mundo assitia impávido porque não sabia do que se passava. Não havia jornalistas no Darfur e fotos como as suas eram extremamente raras nos nossos telejornais. Assim que o mundo soubesse que se matavam e violavam pessoas, que se queimavam aldeias inteiras por questões étnicas, não teria outra escolha se não intervir. Constatar que assim não era foi um golpe duro para Brian.
Este foi um documentário muito diferente do anterior. Um documentário nitidamente político, que nos mostrou imagens que já vimos, mas que precisamos de continuar a ver até que haja suficiente pressão internacional para que se possa parar com isto. Ao longo do filme, pensei diversas vezes, como as imagens de Brian me lembravam os filmes que vi sobre o genocídio do Ruanda (Shooting Dogs e Hotel Ruanda). Embora esses tenham sido ficção, foram ficção sobre algo que tinha verdadeiramente acontecido e pensar nisso é assustador. Por isso, pensar nas imagens de Brian, que não são de todo ficção, é mais assustador ainda.
Nota: O Governo do Sudão decretou por estes dias um cessar-fogo unilateral no Darfur em resposta a pressões da ONU. Mas ainda não estou muito certa que seja desta que acabe o genocídio.
Governo do Sudão decreta cessar-fogo - Expresso 27 Outubro 2007
Brian Steidle
The Devil Came on Horseback
DocLisboa - 24 Out 2007
Saturday, October 27, 2007
Direitos Humanos
Tuesday, October 23, 2007
A outra
Cortar o cabelo.
Comprar roupa nova.
Pintar as unhas de vermelho.
Fazer uma tatuagem.
Usar um colar.
Aplicar maquilhagem.
São pequenas mudanças, atractivas sobretudo nas alturas em que me apetece muito ser outra que não eu.
Sunday, October 21, 2007
Santiago
Numa palavra, adorei.
Ia um pouco à aventura. Pelas descrições fornecidas no programa, este tinha parecido interessante, mas não tinha bem certeza do que iria ver. Poderia, de um modo igualmente fácil, ser aborrecido, pretencioso ou demasiado "artístico" ou rebuscado. Não foi. E ainda bem.
Santiago é o último documentário de João Moreira Salles, um dos quatro filhos do banqueiro e embaixador brasileiro Walter Moreira Salles, fundador do banco que se tornou no actual Unibanco. Dos seus irmãos, apenas Pedro seguiu as pesadas do pai e, segundo a Wikipédia, é gestor no Unibanco; Fernando é editor e Walter Jr. é realizador (dirigiu Central do Brasil e Os Diários de Che Guevara).
Mas voltemos a João e ao seu documentário Santiago. Este é um filme sobre um outro filme que nunca chegou a ser.
Em 1992, João tinha decidido fazer um documentário sobre Santiago, o mordomo argentino que trabalhou na Casa da Gávea, uma luxuosa mansão no Rio de Janeiro, onde João viveu com a família até aos seus 20 anos de idade. Para esse documentário, Santiago foi filmado em diversas divisões da sua casa, um apartamento no Leblon, onde vivia sozinho. Envolto em enquadramentos severos (como o próprio realizador afirma), numa imagem a preto e branco, Santiago falou de si, da sua infância, da experiência na Casa da Gávea e dos seus "amigos" durante cinco dias de filmagens. Durante esse tempo, repetiram-se cenas, discursos, poses. João sabia o que procurava, as imagens estavam na sua cabeça e, para que saíssem como ele as tinha visto, ia dando instruções precisas e rigorosas ao seu personagem. No entanto, apesar das notas, dos planos rigorosos, de uma direcção definida, João não conseguiu montar o filme. Foi o único filme que deixou por acabar. Santiago morreu alguns anos depois das filmagens.
Quinze anos mais tarde, João volta a pegar no seu material de 1992 e surge Santiago. Um documentário em jeito de confissão e penitência. Nele, João reflecte sobre si próprio, sobre o filme que teria feito em 92, sobre a diferença que sente nos quinze anos que passaram. Mostra-nos aqui o que nunca é mostrado: os guiões, os tempos de espera, as repetições, as ordens, os pequenos pormenores de improviso ensaiados. Mostra um João arrenpendido por não ter deixado de ser "o filho do patrão", dirigindo o seu velho mordomo. Mostra-nos ainda a riqueza de Santiago; sem dúvida, um personagem magnífico, mas, acima de tudo, um homem impressionante. Culto, sensível, poliglota, com uma memória invejável e uma grande diversidade de interesses.
Aquando das filmagens, Santiago (segundo as palavras do próprio) vivia "muito contente; não feliz, mas muito contente", no seu apartamento. Embora vivesse sozinho, sentia-se, no entanto, acompanhado pelos personagens históricos cujas vidas ele estudava com afinco. Ao longo de trinta anos, dactilografou, numa velha máquina de escrever, mais de trinta mil páginas cheias de vidas de outros. Famílias aristocráticas, dinastias e linhagens, civilizações antigas, músicos, actores e bailarinos famosos; eram esses os seus "amigos" de longa data. Não eram todos iguais: havia preferidos, os que o encantavam, mas havia alguns que ele desprezava e classificava de bandidos e traidores. As suas vidas, as histórias, as intrigas fascinavam-no e ele ia copiando e compilando, juntando, quando considerava acabado um dado assunto, as folhas em maços que atava com uma fita que mandava vir de Paris.
Para saberem mais, vejam o filme. Na minha opinião, a não perder.
Instituto Moreira Salles
IMDB - João Moreira Salles
DocLisboa - 20 Outubro 2007
Saturday, October 20, 2007
Friday, October 19, 2007
Wednesday, October 17, 2007
Diga lá Excelência
Retirado do Público, 17 de Outubro de 2007
James Watson, Nobel da Medicina em 1962, um dos homens responsáveis pela descoberta da estrutura molecular do ADN, a dupla hélice da vida, precursor da genética, acredita que os negros são menos inteligentes que os brancos. As suas declarações, publicadas num trabalho no “Sunday Times”, de domingo passado, estão a envolver o cientista, mais uma vez, numa acesa polémica.
Não é a primeira vez que James Watson, já com 79 anos e responsável pelo prestigiado laboratório de Cold Springs, suscita polémica com as suas declarações politicamente incorrectas. Em 1997 afirmou, também numa entrevista ao britânico “Telegraph”, que, se um dia se descobrisse que a homossexualidade está gravada nos genes, então que as mães de bebés com esses genes deveriam ter o direito de abortar: “Disse que deviam ter esse direito porque quase todas gostavam um dia de ter netos”, recordou agora na entrevista de domingo do “Sunday Times”.
Agora Watson, que se prepara para publicar mais um livro (“Avoid boring people: lessons from a life in Science”), e que anseia pelo dia em que os cientistas deixem a tarefa de falar politicamente correcto... para os políticos, defende que, geneticamente, os brancos são mais inteligentes que os negros.
“Toda a nossa política social está baseada no facto da inteligência deles [dos africanos] ser a mesma que a nossa. Mas todas as experiências dizem que não é bem assim”, afirma, para depois acrescentar: “Quem tenha que lidar com empregados negros sabe que isto não é verdade”.
Segundo a Unesco, a discriminação de raças com base em pressupostos científicos carece de fundamento e é contra os princípios morais e éticos da humanidade. Mas Watson não entende assim a questão: “Tudo o que conta para mim é a ciência pura”, diz na entrevista. Citado pelo “Independent”, Steven Rose, investigador em biologia da Open University e membro da Sociedade para a Responsabilidade na Ciência, uma das vozes que se insurgiu contra as declarações, afirma: “Se Watson lesse com atenção tudo o que tem sido publicado nesta área concluiria que não percebeu nada do que foi descoberto até agora”.
Ao que parece, este é o senhor que escolheram para Presidente da Comissão Científica da Fundação Champalimaud.
Na altura, achei bizarro.
Agora digo: "eu bem disse que era bizarro."
Tuesday, October 16, 2007
Parabéns a nós!
Se fosse hoje, dizia que SIM outra vez! Espero que pensemos assim durante muitos e bons anos.
Monday, October 15, 2007
Coisas da idade
É certo que o sistema de -inhos/inhas e -ões/onas que o MEC desenvolveu nos ajuda a todos a lidar com o fenómeno, mas, por vezes, olhamos para os membros mais novos da família, os primos bebés, e percebemos que eles têm 18 anos e estão a tirar a carta ou a ir para a faculdade... Aí as coisas tornam-se mais assustadoras.
Além desse, fui reconhecendo outros sinais exteriores de inevitável velhice... Os meus são estes (entre outros, tenho a certeza, mas não posso estar aqui a enumerá-los todos para não ficarem a pensar que eu sou muito mais velha do que realmente sou):
1. Quando era pequena, adorava que me conduzissem depressa; olhava para o conta-quilómetros e adorava vê-lo roçar os 200. Hoje, a velocidade não me atrai assim tanto. Chego a apoiar-me no tablier e no suporte por cima da janela quando me sinto conduzida a velocidade excessiva. Isto, claro, para não falar de levar o pé ao "travão", mesmo no lugar do passageiro.
2. Durante anos a fio, ansiamos pelo nosso dia de aniversário. Sabemos a idade na ponta da língua e é difícil esperar que passe mais um ano, tal é o desejo de crescer. Quando se passa a ter de calcular a idade, é um sinal incontornável de idade acumulada.
3. É certo que tenho algo de control freak, misturado com OCD, o que é capaz de se notar num lado hipocondríaco que se tem vindo a acentuar. Daqui a uns anos, serão bicos de papagaio e dores nas cruzes.
4. Tal como o Calvin, passava a vida a ver coisas nojentas no meu prato, monstros verdes e essas coisas. Hoje em dia, como sopa todos os dias, saladas, vegetais (até cozidos, dos quais ainda não gosto muito, o que significa que há mais para onde evoluir) e, sobretudo, passei a gostar de azeitonas. Isto é de gente crescida, não?;
5. O meu nível de organização sempre foi, por assim, dizer, um caos organizado. É um método muito próprio, que fui desenvolvendo com requinte ao longo dos anos. No entanto, como quem não quer a coisa, fui vindo a ser tomada por uns ímpetos de arrumação cada vez mais frequentes. É a decadência...
6. Por último, a família. Durante décadas, eu e os meus amigos éramos a parte mais nova da família: os filhos, os netos, os sobrinhos. De um momento para o outro, passámos a ser os maridos, as esposas, os pais, os tios. É certo que ainda não chegámos aos avós, mas para lá caminhamos a passos largos...
Sunday, October 14, 2007
Saturday, October 13, 2007
Madrid, o japonês e noites brancas
Provavelmente, isto é extremamente provinciano da minha parte, que nunca tinha estado em Madrid, mas senti-me, sem qualquer dúvida, numa grande cidade, cosmopolita, com dimensão verdadeira de capital. Se o encanto de Lisboa poderá vir das ruas estreitas e calçadas íngremes do centro histórico, creio que o de Madrid está na grande dimensão das avenidas, das praças, dos paseos, na imponência dos edifícios. Faz-nos sentir pequenitos, mas impõe respeito. Ahhhh, claro... Aquele pequeno pormenor de haver um parque com o tamanho do Retiro, mesmo no centro, também não é de desdenhar.
Andei bastante a pé (espaço não falta), visitei museus (alguns, mas não todos, que não foi assim tanto tempo), vi as vistas e provei tapas, mas não tirei fotos nenhumas, porque não tinha máquina. Por isso, o japonês que existe dentro de mim (ao lado do geek e da cabra cínica) quase sente que esta visita não contou. É um bocado idiota esta necessidade de registar momentos através de uma lente, mas multiplica infinitamente o gozo que tiro de uma vista. Note-se que até podia andar a carregar a máquina três dias e não me apetecer tirar uma única foto (improvável, mas possível), mas a impossibilidade de não tirar fotos é quase angustiante. Ainda pensámos em comprar uma máquina compacta (visto que já está previsto que o façamos desde há uns tempos), mas o meu Scrooge interior não deixou o japonês levar a dele avante. O japonês ficou um pouco amuado, mas lá teve que se acostumar à ideia; a cabra cínica só se ria e fartou-se de gozar com ele todo o fim de semana, enquanto o geek desesperava e pedia silêncio para poder apreciar melhor os quadros.
Tivémos ainda a sorte de estar em Madrid numa Noche en Blanco, uma iniciativa cultural que ocorre em em várias cidades europeias. Os museus, jardins, teatros e mesmo espaços que não são abertos ao público abrem à noite, para aí das 9 da noite às 3 da manhã. Além disso, há animação de rua, exposições, teatro, concertos, dança, e mais um monte de coisas, tudo numa noite... Tudo à borla... O sonho, não? Sim, muito provavelmente. É uma ideia óptima, à qual espero que Lisboa adira um dia destes. Madrid aderiu em peso e estava tudo na rua, com filas de duas horas para muitos dos locais a visitar. Percebi então que a estratégia tem que ser outra: escolher o que mais se quer ver e ir para essa fila. É pouco provável que dê para muito mais, com os tempos de espera. De qualquer modo, se tivemos a sorte de estar em Madrid numa noite dessas, tivemos o azar de choveeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeerr. Grrrrrrrrrrrrrrrrrr!!! Acreditam nisto??? Resultado: apanhámos uma molha valente e voltámos para o hotel sem ver nada porque estávamos ensopados. Moral da história: Numa situação semelhante, esperem que a chuva passe antes de sair; quando se está ensopado, a disponibilidade mental para ver seja o que for é significativamente reduzida.
Friday, October 12, 2007
Thursday, October 11, 2007
Time Out
Com duas semanas de atraso (provavelmente, como a generalidade da minha vida nos dias que correm), cá vão os meus pensamentos sobre a nova revista "agenda" de Lisboa.
O facto de se conseguir publicar todas as semanas uma revista com aquela montanha de sugestões leva-nos a crer que Lisboa tem uma vida cultural super animada, como se quer de uma capital europeia que se preze. E em boa verdade, tem mesmo.
Haja tempo e dinheiro (como na maioria dos sítios, aliás) e há uma montanha de actividades à nossa espera. O grande problema reside no facto de que para ganhar o segundo, temos que sacrificar, muitas vezes, o primeiro... Tramado, não? Outro problema é que, como acabou de sair e está na moda, vai um maralhal de gente que normalmente não iria, gerando o caos e longas filas. (NOTA: Eu tenho até consciência que este segundo ponto não é um problema, é uma resposta positiva e interessada de um público sedento de actividade... É um sucesso compensador para a organização dos eventos... É só um problema para malta preguiçosa e invejosa como eu, que não gosta de multidões.)
Além das milhentas sugestões organizadas numa só agenda, com classificação e resumo, tenho outras razões, mais pessoais, para gostar da revista. A Time Out faz-me sentir mais perto de amigos que vivem noutras cidades mais ou menos longe, e que consultam, religiosamente, a sua própria Time Out. Ridículo, provavelmente, mas é o que é.