Evil Machines, uma fantasia musical com laivos de ópera*, de Luis Tinoco e Terry Jones, com música pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, em cena até 3 de Fevereiro, no Teatro São Luiz. Se quiserem ir, têm que se apressar a comprar bilhetes. Nós já fomos. E gostámos.
Desde que a peça está em cena, multiplicaram-se nos jornais e revistas as entrevistas a T. Jones. Creio que li numa delas que a ideia original derivou da enorme quantidade de máquinas, maquinetas, aparelhos electrónicos e gadgets em geral que nos facilitam/enchem a vida e a incrível facilidade com que passam à história. Numa outra (ou talvez na mesma), perguntavam-lhe se a peça não teria algo de infantil, de teatro para crianças, a que T. Jones respondeu que não distinguia entre escrever para crianças ou para adultos. Eu, que fui ver a peça, tenho nitidamente a mania e obviamente tempo livre a mais, cá deixo a minha review.
Não creio que a peça seja exactamente para crianças. Mas acho que nos faz sentir algo infantis. Mais ou menos como a mesa gigante que existe (existirá ainda?) no Pavilhão do Conhecimento, ao pé da qual os adultos se vêem na perspectiva de uma criança de três anos. Isto é, faz-nos sentir infantis num bom sentido. Naquele em que somos transportados aos tempos em que víamos o mundo com olhos bem diferentes, porventura numa perspectiva algo limitada, mas com horizontes muito mais amplos. Penso que nos a peça nos pede abertura de espírito. Não é todos os dias que se vê um universo de aspiradores que têm em vista dominar o mundo, a par com parquímetros demoníacos e carros selvagens, que querem destruir a espécie humana sob o comando de um clone maquiavélico de um grande inventor. Perante isto, forma-se um grupo clandestino de resistência, iniciado por alguns aparelhos que se preocupam com a sua utilidade aquando do desaparecimento dos humanos. A resistência envia então o despertador como mensageiro para avisar os humanos**. Vale-nos o facto da mensagem ter caído nos ouvidos de Nancy, que se empenha na grande missão de travar o plano do clone malvado. Isto tudo, claro, enquanto vão cantando como se não houvesse amanhã.
Visualmente, este desfile de máquinas tem um efeito fantástico. O guarda roupa está fenomenal e eu, que nem gosto de Carnaval, adoraria disfarçar-me de aspirador gigante (será que alugam?). Mas o outfit de telefone, de Lester, the Vespa ou mesmo de fogão não ficam em nada atrás.
Esta ideia das máquinas se revoltarem e dominarem o mundo não é nova. Mas arrisco dizer que é a primeira vez em que, pelo meio da revolta, há uma história de amor entre um despertador e uma batedeira.
*Muito sinceramente, pedindo desculpa pela ignorância, não sei bem qual é classificação oficial devida deste espectáculo. Já lhe ouvi chamar ópera, libretto ou musical... Os actores são cantores líricos, há orquestra e a maioria do texto é cantada.
**E o despertador, vestido de gabardina, diz em surdina: Listen very carefully. I'll say this only once. Não aconteceu, mas podia ter acontecido.
***Dentro do âmbito da rubrica Lisboa de Xanatas, fica a informação de que, para menores de 30, há bilhetes a €5.
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