A ideia era uma curta viagem a Madrid para ver a retrospectiva de Paula Rego, no Rainha Sofia. Visto que a tínhamos perdido por um tudo nada em Setembro, não queríamos mesmo perder a oportunidade de a ver antes de acabar. É claro que uma vez em Madrid, não nos importávamos de fazer outras coisas para além da exposição, pois aquilo é suficientemente grande para não se ficar facilmente aborrecido. Além disso, num ano sem férias a sério, era o ideal para nos dar coragem para a época festiva.
Esta era a ideia. Uma bonita ideia. E lá nos pusemos ao caminho, por entre vales e montes, alguns cobertos de neve, naquela que foi uma das piores viagens que já fizémos até hoje, com várias paragens intermináveis para fins diversos: tomar café e fazer as últimas coisas online (antes da intoxicação e de entrarmos em Espanha), vomitar, lavar o carro, pôr gasóleo, vomitar, beber chá e comprar água com gás, filas de trânsito, vomitar. Depois daquilo que nos pareceu uma eternidade, chegámos finalmente ao hotel, onde nos encarcerámos durante a nossa breve estada em Madrid.
No dia seguinte, a grande custo, lá nos arrastámos para o Rainha Sofia (que diabo, então se nós lá fomos de propósito para ver aquilo!!!) e vimos a retrospectiva. Muito bom, mas confesso que esperava mais quadros ainda. É certo que estávamos tão mal dispostos e tão genericamente blaaaaaarghhh que não sei se teríamos aguentado durante mais quadros. De qualquer modo, gostei muito.
Não percebo nada de arte. Se percebesse talvez soubesse por que razão gosto normalmente de museus de arte moderna e contemporânea. Muito mais dos que os museus mais clássicos e formais. Sinto-me muito melhor e mais interessada no Rainha Sofia do que o Prado, na Tate Modern do que na National Gallery. Se percebesse de arte, talvez conseguisse também explicar por que razão gosto de Paula Rego. Reconheço que os seus quadros não se encaixam nas noções de beleza convencionais. Retratam muitas vezes figuras grotescas ou disformes, algo violentas por vezes. A mim, agradam-me. As figuras, as cores, mas sobretudo as histórias, o simbolismo. Gosto de olhar para eles e tentar perceber o que me querem dizer. Imaginar o que aconteceu antes daquela imagem ter sido "congelada". O que estavam os personagens a pensar, a fazer, o que sentiram, o que iam fazer a seguir.
Gostei também de ver os quadros das fases iniciais de Paula Rego, diferentes dos mais recentes, provavelmente, à procura da sua identidade. Gosto sempre também de ver os estudos. Os quadros grandes têm um enorme impacto e acabam sempre por parecer fáceis. É mais ou menos como ver uma bailarina experiente a dançar. A sua harmonia e rapidez, frutos de anos de treino, leva a crer que os seus movimentos são fáceis e acessíveis a qualquer um. Os estudos mostram-nos o trabalho, o planeamento por detrás da aparente facilidade do resultado final. Mostram-nos como se desenvolveu parte daquele processo criativo. E claro que alguém intrinsecamente curioso como eu não resiste a estas janelas para o cérebro alheio. Ainda por cima um cérebro donde surgem imagens de que eu gosto tanto.
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